domingo, 9 de janeiro de 2011

Século XX


Os primeiros trinta anos

Na virada do século Porto Alegre passou a ser vista como o cartão de visitas do Rio Grande do Sul, idéia perfeitamente alinhada com os propósitos do Positivismo, corrente filosófica abraçada pelos governos estadual e municipal, e por isso a cidade deveria transmitir uma impressão de ordem e progresso. Para transformar a idéia em fato, a Intendência iniciou um enorme programa de obras públicas, que foram apoiadas em larga medida pelo governo estadual, circunstância favorecida pela Constituição de 1891, que na prática entregava ao estado grande poder sobre os municípios, a ponto de Borges poder impor modificações na Lei Orgânica municipal, restringindo a atuação do Intendente. Partia do Governador a indicação do Intendente, e Borges sucessivamente escolheu José Montaurypara a chefia da cidade, elogiando sua capacidade de administrar às claras, minorar o sofrimento dos pobres e refrear a ganância dos capitalistas. A fim de melhor controlar o processo desenvolvimentista, o município atraiu para si a responsabilidade sobre muitos serviços públicos, como o fornecimento de água encanada, iluminação, transporte, educação, policiamento, saneamento e assistência social, em um volume que ultrapassava em muito o hábito da época e superava o que faziam na mesma altura São Paulo e Rio de Janeiro.

Centro de Porto Alegre nas primeiras décadas do século XX

Paço Municipal

Antigo Banco da Província
Para fazer face à despesa, o governo passou a tomar empréstimos no exterior, iniciando a acumulação de significativa dívida externa. Entre 1909 e 1928 a cidade pediu empréstimos no valor de 600 mil libras esterlinas mais quase 10 milhões de dólares , além de ter de arcar com a contratação de um grande número de novos funcionários públicos. Esse programa de governo, o Plano Geral de Melhoramentos, resultou também em uma explosão na construção civil de caráter monumental, renovando a paisagem urbana. Foi quando se ampliou o porto num projeto vasto e ambicioso, e se ergueram alguns dos mais significativos e luxuosos prédios históricos da capital, alguns carregados de simbolismo, incluindo o Palácio Piratini, a Prefeitura, a Biblioteca Pública, o Banco da Província, os Correios e Telégrafos, e a Delegacia Fiscal, boa parte deles construídos pela parceria entre o arquiteto Theodor Wiederspahn, o engenheiro Rudolf Ahrons e o decorador João Vicente Friedrichs. Também começava a dar frutos positivos a atividade das primeiras faculdades, instaladas no ocaso do século XIX: Farmácia eQuímica em 1895, Engenharia em 1896, Medicina em 1898e Direito em 1900. Ao mesmo tempo, a indústria se fortalecia e começava a substituir definitivamente as manufaturas e o artesanato e a posição central de Porto Alegre no comércio de todo o estado já estava firmemente consolidada. A cidade recebia ainda imigrantes, agora incluindo judeus da Europa, além de mais italianos e polacos, bem como migrantes de outros estados do Brasil. Vários de seus representantes dariam contribuição significativa em diversas atividades.
A despeito das evidentes melhoras, a administração castilhista foi alvo de crescente número de críticas, tanto por suas inconsistências, fracassando por exemplo no campo da habitação popular, como por seu continuísmo dogmático e conservador, embora Montaury fosse muito respeitado por sua probidade e estimado como pessoa. A insatisfação dos opositores do castilhismo se revelou por fim na violenta Revolução de 1923, que tentou apear Borges do poder em meio a uma grave crise econômica e evidências de fraudes eleitorais. Borges permaneceu, mas a Constituição Estadual foi reformada, retirando o poder do governador de nomear Intendentes e impedindo sua reeleição para dois mandatos consecutivos. Com isso em 1924 José Montaury deu lugar a Otávio Rocha. Neste momento Porto Alegre já tinha 190 mil habitantes.
Otávio Rocha, também castilhista, empenhou-se ainda mais para a reforma da cidade, desejando transformá-la em uma "nova Paris". No seu programa estavam previstas as construções de avenidas largas, bulevares e rótulas e, para colocá-lo em prática, especialmente na área central, mandou derrubar dezenas de casarões e cortiços, que simbolizavam pobreza e atraso, e incrementou diversos outros equipamentos e serviços públicos. Tais reformas, no entanto, aumentaram o endividamento da capital obrigando à criação de uma série de novos impostos: sobre as profissões, os divertimentos, o comércio e a indústria, a caridade, a conservação de ruas e estradas, os serviços de coleta de lixo e aferição de pesos e medidas. Em 1927, três mil automóveis já circulavam em Porto Alegre, número inferior apenas ao da frota de São Paulo.
Na cultura também houve realizações notáveis nos primeiros trinta anos do século XX. Segundo Maria Teresa Baptista,
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Os ideais positivistas não se restringiram às esferas da política e da religião, também influenciaram no plano cultural. Como consequência disso, inaugura-se o Teatro Polytheama (1898), o Arquivo do Estado (1906), e muitos outros estabelecimentos que mostravam o interesse do governo pelas diversas áreas da vida social e intelectual do Estado republicano(…)
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Em 1901 foi fundada a Academia Rio-Grandense de Letras, agregando muitos jornalistas, poetas e escritores, como Caldas Júnior, Marcelo Gama, Alcides Maia e Mário Totta. Logo em seguida se fundou o primeiro museu do estado, o Museu Júlio de Castilhos, criado em 1903 para abrigar objetos que vinham sendo coletados desde 1901 e estavam depositados nos pavilhões construídos para a 1ª Exposição Agropecuária e Industrial. No mesmo ano ocorreu o primeiro evento inteiramente dedicado às artes, o Salão de 1903, promovido pela Gazeta do Commercio. Este salão, segundoAthos Damasceno, foi "o primeiro certame a dar às artes do Rio Grande do Sul um estatuto de autonomia (…) legitimando-as como objeto de aprovação e distinção social" Outro marco foi fundação em 1908 do Instituto Livre de Belas Artes, antecessor do atual Instituto de Artes da UFRGS, incluindo cursos de música e artes plásticas, que concentraria a produção de arte na capital e seria no estado praticamente a única referência institucional significativa até meados da década de 1950 nos campos do estudo, ensino e produção de arte. O Instituto "foi criado por amadores da arte como culminância do projeto civilizatório formado pelas escolas superiores livres e que constituíram a origem da primeira universidade na região", mas logo profissionais se juntariam e "assumiriam sua condição de agentes, passando a expressar a autonomia da arte, valendo-se do seu lugar institucional". No Instituto ensinaram alguns do nomes mais notórios da pintura local desse início de século, como Oscar Boeira, Libindo Ferrás e João Fahrion, junto com artistas de fora comoEugenio Latour e Francis Pelichek e Luiz Maristany de Trias Um pouco mais tarde despontam mais nomes de peso na literatura e na poesia, como Augusto Meyer, Dyonélio Machado e Eduardo Guimarães, além de a atividade da Biblioteca Pública do Estado, reinaugurada com grandes ampliações em 1922, contribuir significativamente para dinamizar as letras locais.

Primeira formação da Banda Municipal

Manchetes do Correio do Povo sobre a ascensão de Getúlio à presidência da República
no futebol brasileiro anos mais tarde.