domingo, 9 de janeiro de 2011

Crescimento

Apesar do aumento populacional daqueles tempos de guerra, a malha urbana só voltaria a crescer em1845, com o fim da Revolução e a derrubada das fortificações que cercavam a cidade, acompanhando a normalização do panorama provincial como um todo e a reativação da economia local. A importância do porto da cidade para a circulação de gentes e bens pela Província toda crescia de acordo, o que iria iniciar um processo de ampliação da cidade à custa do lago, com a construção de sucessivas benfeitorias e aterros no litoral. No centro se realizaram melhoras em diversos equipamentos públicos, construindo-se fontes públicas para abastecimento de água, estendendo-se ruas, criando novos cemitérios, construindo uma nova cadeia, um grande Mecado Público, asilos e uma nova Câmara, e estruturando o atendimento médico com a consolidação da Santa Casa de Misericórdia e da Beneficência Portuguesa. Enquanto isso os aldeamentos satélites floresciam em relativa autonomia, adquirindo importância os arraiais do Menino Deus e dos Navegantes, hoje bairros quase centrais, e a Aldeia dos Anjos, hoje parte de Gravataí. Nota trágica foi a epidemia de cóleraque irrompeu na cidade em 1855, ceifando mais de 1.400 vidas, o que se repetiria dez anos depois, mas com bem menor número de mortes.

Igreja de Nossa Senhora da Conceição

A partir de então a economia da cidade se diversificou, instalando restaurantes, pensões, pequenas manufaturas, alambiques e diversos estabelecimentos comerciais. No período de 1865 a 1870 a Guerra do Paraguaitransformou a capital gaúcha na cidade mais próxima do teatro de operações. A cidade recebeu dinheiro do governo central, além de serviço telegráfico, novosestaleiros, quartéis, melhorias na área portuária. Em 1872 as primeiras linhas de bonde entraram em circulação. Construiu-se a Usina do Gasômetro (1874) e implantou-se uma rede de esgotos (1899).

Em 1884 decretou-se a libertação dos escravos, quatro anos antes da Lei Áurea, indício de que a discussão política e social na cidade já adquirira considerável vigor, com partidos políticos ativos e vários jornais de opinião em circulação, como A Democracia eA Federação, de ideais republicanos. Por esta época já estava avançado o processo deconurbação do centro histórico com os arraiais vizinhos, e as áreas intermédias começam a ser valorizadas para estabelecimento de loteamentos, surgindo os núcleos dos futuros bairros Floresta, Bom Fim, Independência, Moinhos de Vento e vários outros.[3] Porto Alegre se tornava também o lar de algumas famílias de imigrantes italianos, vindas na onda colonizadora que se concentrou na Serra do Nordeste,[7] e de polacos não adaptados que se haviam instalado originalmente no interior do estado. Logo ambos os grupos fundavam sociedades e se organizavam.

A cultura de Porto Alegre mostrou na segunda metade do século um significativo avanço. A elite já ostentava hábitos elegantes, tendo amadurecido a ponto de mostrar interesses variados em arte e alimentar uma vida cultural significativa, onde brilharam os primeiros intelectuais, educadores e artistas locais de real mérito, como Antônio Vale Caldre Fião, Hilário Ribeiro,Luciana de Abreu ePedro Weingärtner, a quem se juntaram outros de fora como Apolinário Porto-Alegre e Carlos von Koseritz. O influxo de influências francesas e alemãs forneceu elementos culturais adicionais para desencadear os primeiros movimentos modernos no terreno da arte da capital, que em 1880 já possuía mais de 40 mil habitantes mas ainda construía casario e grandes edifícios em estilo Barrococolonial como a Igreja da Conceição. São importantes por então o entusiasmo da Sociedade Parthenon Litterario, ativa desde 1868, formada pela flor da intelectualidade gaúcha, e a realização em 1875 do primeiro salão de artes, como uma seção daGrande Exposição Commercial e Industrial. Ao mesmo tempo foi aberta a primeira galeria comercial de arte e surgiu a primeira idéia de se criar em Porto Alegre uma escola de artes, proposta do cenógrafo Oreste Coliva acolhida com calor pela imprensa e os círculos ilustrados, embora o projeto, ambicioso demais para o momento histórico, não tenha frutificado. Outras áreas da arte igualmente demonstravam vitalidade, como a música. Algum treinamento musical se tornara parte obrigatória da educação da elite, os festejos públicos e privados sempre se valiam da música, havendo já diversos grupos instrumentais em atividade, e se destacava o maestro Joaquim Mendanha, antigo membro da Capela da Corte do Rio, professor e fundador da Sociedade Musical de Beneficência Porto-Alegrense, além de ser o Mestre-de-Capela da Matriz. Nesse período também se inaugurou o Theatro São Pedro, uma grande casa de ópera, e fundou aSociedade Filarmônica Porto-Alegrense, a fim de financiar uma escola de música e organizar concertos para seus sócios.

Depois da instauração da República a situação política no estado se tornou confusa, ocasionando o acirramento de rivalidades e anomalias institucionais, como em 12 de junho de 1892, quando no mesmo dia estiveram à testa do governo estadual simultaneamente dois presidentes, assumindo por fim provisoriamente um terceiro. Em 1893 a tensão explodiu na sangrenta Revolução Federalista, que pretendia "libertar o Rio Grande do Sul da tirania de Júlio de Castilhos", então presidente do estado, que havia iniciado reformas e imposto uma Constituição Estadual de inclinação positivista. Os combates não chegaram às portas da cidade, mas por ser ela a capital dividiu ali dramaticamente as opiniões. Terminou com o triunfo de Júlio de Castilhos e aniquilamento da oposição, ainda que nem todas as vozes se calassem, consolidando um regime que embora autocrático teve significativo sucesso no manejo de uma herança administrativa ineficiente, lançando os alicerces do progresso acelerado do início do século XX. Em 1897 foi sucedido por seu fiel discípulo Borges de Medeiros, que governaria até 1928.

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